Passo-a-passo da transformação
Por Tatiana Schibuola
Toda vez que a atriz Vera Fischer “entra em forma” para uma nova novela, a Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica registra alta em suas estatísticas. É o “efeito celebridade”. Basta uma mulher famosa anunciar que fez lipoaspiração ou implantou silicone e a procura por cirurgias do gênero dispara. Os números demonstram que as brasileiras (e os brasileiros, em menor porém significativa participação) são culturalmente desinibidas em matéria de aprimoramento estético: tendo a oportunidade e os meios, recorrem ao bisturi com desenvoltura. Em 2002, foram contabilizadas 370 000 cirurgias estéticas no país, um aumento de quase 6% em relação ao ano anterior. Quem não fez sonha em fazer – e é natural ficar com a cabeça cheia de dúvidas. Vai doer? Quantos dias ficarei fora de circulação? E as cicatrizes?
Nessas horas, é reconfortante lembrar que os avanços da medicina estética são constantes. Entre as melhorias obtidas nos últimos tempos contam-se as técnicas de lifting facial. No chamado minilifting, as incisões contornam apenas parte da orelha, corrigindo rugas e flacidez em toda a região do rosto abaixo da linha dos olhos. Outra técnica, baseada em laparoscopia, age na parte de cima: alisa testa e pés-de-galinha a partir de minúsculas incisões em pontos do couro cabeludo. Próteses de mama podem ser inseridas por um corte na região da axila, que não deixa cicatriz alguma nos seios. No caso da lipoaspiração, campeoníssima entre as intervenções estéticas no Brasil, uma anestesia que acrescenta soro fisiológico e adrenalina reduziu consideravelmente a perda de sangue; cânulas mais finas e métodos que detonam as células de gordura, como o laser, diminuem irregularidades na pele.
Mas, por mais que a medicina avance e por mais habilidoso que seja o cirurgião, ninguém passa por uma cirurgia impunemente. Para não se assustar depois, convém saber o que esperar. Por exemplo, quando os médicos dizem que haverá “algum desconforto”, isso significa dor. O cauteloso “vai doer um pouquinho” quer dizer dores fortes num primeiro momento, seguidas de alta sensibilidade na área afetada por uns dez dias. “Com o tempo, a cicatriz some” pode se traduzir em alguns anos para ela efetivamente não ser notada. Por mais injusto que possa parecer, cirurgias estéticas funcionam melhor em pessoas jovens. A lipoaspiração de gordurinhas na barriga de uma moça de 25 anos tem grande probabilidade de resultar num abdômen chapado, recoberto de pele lisinha. Na mulher de 40, a pele tem menos elasticidade e pode ganhar um efeito “ondulado”, que só a plástica pura e simples (com bisturi e um corte grande) irá evitar. A primeira semana de pós-operatório da maioria das cirurgias exige repouso completo, e a idéia de “pôr óculos escuros e ir trabalhar” não é nada viável. Uma paciente recém-saída de um lifting no rosto, com a cabeça enfaixada, a face inchada e uma coleção de hematomas, sente-se mais personagem de filme de terror que profissional dedicada.
Para mostrar, passo a passo, todo esse processo, as quatro mulheres retratadas nesta reportagem foram acompanhadas ao longo de dois meses. Elas se submeteram às cirurgias mais comuns (lifting, lipo e silicone) e fizeram um diário de suas experiências. Que não haja nenhuma dúvida: depois dos percalços previsíveis, todas estão felicíssimas com os novos contornos.
Antes, durante e depois
Aida Carvalho, 53 anos, dona-de-casa, fez um minilifting, tirou as bolsas de gordura sob os olhos, corrigiu as pálpebras caídas e a diferença de altura entre as sobrancelhas. As fotos abaixo são o melhor testemunho do excelente resultado.
Fotos Pedro Rubens
Dia D
“Uma amiga me levou ao consultório. Estava muito tensa. Fui sedada, tomei anestesia local e não me lembro de mais nada. Oito horas depois, acordei, meio zonza. Minha filha veio me buscar. Cheguei em casa à noite, passando muito mal. Minha reação a anestésicos é sempre ruim, vomito sem parar. Por volta da 1 da manhã, consegui dormir.”
Um dia depois
“Continuei vomitando até a hora do almoço. À tarde voltei ao consultório para trocar o curativo e fazer punção do líquido acumulado. Ainda não me olhei no espelho. Não sinto dor, mas continuo com uma terrível sensação de incômodo.”
Dois dias
“Voltei à clínica para tirar o ‘capacete’. Quando vim para casa e me olhei no espelho, fiquei assustada: a raiz do cabelo estava suja de sangue, havia hematomas ao redor dos olhos e achei que eles pareciam arregalados. Se soubesse que seria assim, acho que não teria feito a cirurgia.”
Doze dias
“Quem faz uma cirurgia como essa tem de ter paciência para ficar em casa. Assisti à TV o tempo todo, recebi visitas de amigas. Só saí de casa para ir à clínica fazer drenagem linfática, que ajuda a diminuir o inchaço. A área ao redor dos olhos e do maxilar está meio amarelada. Uso base para disfarçar.”
Um mês
“Finalmente estou me sentindo bem. A sensação de incômodo desapareceu e só tenho hematomas ao redor do maxilar. Meu rosto ainda está um pouco inchado, mas acho que só eu noto.”
Dois meses
“Num encontro com a família todo mundo disse que eu estava bonita. As pessoas vêem algo diferente na gente e não sabem o que é. Meu rosto ganhou novo contorno e, quando acordo e me olho no espelho, não vejo mais aquelas bolsas horríveis sob os olhos. Grande parte das cicatrizes fica escondida sob o cabelo, e elas estão mais sutis.”Sugando as gordurinhas
Daniela Mafra, 28 anos, engenheira de alimentos, fez lipoaspiração nos culotes, na parte interna das coxas e na barriga. Suas roupas ficaram largas!
Ângela Vasconcelos, 40 anos, escrevente, fez lipoaspiração no abdômen e colocou silicone nos seios. Uma pequena ondulação na pele não a impediu de comemorar a nova silhueta.
Dia D
Daniela: “A cirurgia estava marcada para as 7h15. Às 5 da manhã eu já estava de pé, sem conseguir dormir. Cheguei à clínica, troquei de roupa e logo a anestesista me deu um sedativo. Só acordei às 17h, na cama, com a cinta modeladora. Senti um pouco de enjôo e tive de pedir ajuda para me levantar. Fui para casa no mesmo dia.”
Ângela: “As últimas coisas de que me lembro na sala de cirurgia são o clima descontraído e a brincadeira dos médicos. Acordei no quarto, totalmente grogue. Sentia um pouco de ardor nos seios, mas ainda estava sob o efeito da anestesia.”Um dia depois
Daniela: “Passei o dia deitada de barriga para cima, a única posição mais ou menos confortável. Senti dor, mas nada insuportável.”
Ângela: “Fora a dor nos seios, nada me incomodava muito. Fui para casa depois do almoço e a primeira coisa que fiz foi tomar um banho. Ao tirar a cinta, examinei-me em frente do espelho e, apesar do inchaço e dos hematomas na barriga, já deu para notar alguma diferença. Fiquei superfeliz. Fui direto para a cama. Aí é que comecei a sentir dor de verdade.”Dois dias
Daniela: “Tomei o primeiro banho. A água quente me deu moleza e enjôo. Olhei-me no espelho pela primeira vez. Nossa, é feio de ver. Havia hematomas na barriga, na parte de trás das pernas, no culote, no joelho. Ainda estava muito inchada.”
Ângela: “Fiquei o tempo todo deitada, assistindo à TV, e doida para me movimentar. Mas não podia nem levantar o braço. Sinto bastante dor nos seios.”Quinze dias
Daniela: “Tinha planejado voltar ao trabalho três dias depois da cirurgia, mas não consegui. Tive de esperar mais dois. Só voltei a dirigir sozinha depois de uma semana. Passar em cima de buraco era horrível. Precisei de ajuda para tirar e vestir a cinta, tinha dificuldade para me abaixar, para me movimentar. Fui ao médico preocupada, por não ver muita diferença. Ele disse que ainda estou bastante inchada. Continuo sensível da cintura até o joelho. Ninguém pode encostar que dói.”
Ângela: “Tirei os pontos e comecei a dirigir, embora ainda estivesse proibida. Também voltei ao trabalho. Não sinto mais dor nem sensibilidade e os hematomas praticamente desapareceram.”Um mês
Daniela: “Já posso deitar de bruços e os hematomas quase sumiram.”
Ângela: “Ainda estou bastante inchada. Minha barriga apresenta ondulações bem visíveis. Para combatê-las, terei de fazer várias sessões de drenagem linfática.”Dois meses
Daniela: “O resultado finalmente apareceu. As calças já estão bem largas no culote e minhas coxas não raspam mais uma na outra quando ando. Difícil foi agüentar a cinta por tanto tempo. Nos dias mais quentes, é terrível. Finalmente estou liberada.”
Ângela: “Estou superbem. Troquei a cinta por um modelador, que vou usar até desinchar totalmente. Os seios estão bem mais levantados. A única coisa que ainda incomoda é a ondulação no abdômen, que está diminuindo aos poucos. No final, acho que tudo valeu muito a pena.”Muito poderosa
Antônia Fontenelle, 30 anos, é atriz e produtora teatral. Colocou próteses de 220 mililitros no seio direito e de 240 mililitros no seio esquerdo (“era mais caidinho”) e passou, exultante, do sutiã 38 para o 42.
Dia D
Um dia depois
“Acordei sem dor, mas sentindo um incômodo danado. Com o peito todo inchado, ficou difícil respirar. Fui direto para o espelho. Tirei o sutiã e fiquei boba. Exceto pelo curativo sobre a aréola, estava tudo limpinho, perfeito.”
Quinze dias
“Desde o segundo dia depois da operação, quando voltei para casa, já estava sem o curativo, só usando o sutiã e um esparadrapo fininho para evitar atrito. Meu filho se tornou meu braço direito – eu, que sou superativa, não podia nem levantar o braço. Mas me comportei direitinho e não saí de casa.”
Um mês
“Liguei para o médico para saber se podia ir à praia. Ele liberou, desde que eu passasse bastante filtro solar. Senti-me poderosíssima. Acho que todo o inchaço foi embora e quase não há vestígio da cicatriz.”
Dois meses
“Já não preciso mais do sutiã. Meus seios estão perfeitos. Se soubesse que ficaria tão natural, até teria colocado um pouco mais.”