Plásticas
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Entre o belo e o bizarro

Plásticas bem orientadas e feitas por profissionais preparados levantam a autoestima. O problema é quando faltam bom senso e limites

Por Pabline Félix

Fotos: Eugênio Gurgel, Washington Alves, Paulo Márcio

Há quem encare a cirurgia plástica como uma ida cotidiana ao supermercado. Nas prateleiras, os “produtos” são inspirados em celebridades: que tal o formato dos olhos da Katie Holmes, o nariz da modelo Gisele Bündchen, a boca carnuda da estrela hollywoodiana Angelina Jolie, os seios da atriz Jennifer Aniston ou o bumbum da estrela Juliana Paes, que podem ser comprados à vista ou a prazo, de acordo com a vontade e condição do consumidor? Uma conduta normal, certo? Errado. Os especialistas denunciam que essa forma de encarar os procedimentos cirúrgicos estéticos está totalmente deturpada: “Buscar ter o formato do rosto, o sorriso ou o nariz igual ao de outra pessoa é uma coisa perigosa. As tendências vêm e vão, mas o corpo de uma pessoa ultrapassa isso”, diz Ronan Horta, cirurgião há mais de 30 anos na capital mineira. “Não dá para você entrar em um guarda-roupa e trocar de corpo. Não podemos ceder aos clamores da moda quando o assunto é cirurgia plástica.”

Por isso, equilíbrio e precaução são as principais recomendações dos médicos na hora de recorrer às plásticas. Mesmo porque se tornam cada vez mais comuns casos de exagero nas modificações do corpo, cujo principal exemplo é o do falecido cantor Michael Jackson e sua obsessão com o tamanho de seu nariz. No Brasil, há quem diga que passaram por modificações excessivas as apresentadoras Ana Maria Braga e Hebe, a modelo Ângela Bismarchi e a cantora Gretchen, além de inúmeros anônimos que, influenciados pelas imagens exibidas constantemente pela mídia nacional e internacional, recorrem mais e mais cedo à “ajudinha” da medicina para alcançar o corpo e o rosto dos sonhos.

O problema é que, quando o assunto é limite estético, não há como estabelecer até onde é possível garantir um resultado natural – e, principalmente, o que é considerado um resultado natural. O que aos olhos de uns pode parecer uma simples “melhoradinha”, para outros pode ser um exagero, e o próprio conceito do que é ou não bonito está longe de ser consenso. A cirurgiã plástica Patrícia Leite explica que existe um padrão cientificamente reproduzido, comprovado por estudos antropológicos, sobre o que é mais atraente para o sexo oposto: rosto simétrico, sobrancelhas arqueadas, lábios maiores, pele de bebê, entre outras características. Já o cirurgião Cláudio Salum Castro, presidente da regional mineira da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica (SBCP), considera que o importante é a harmonia: “A beleza está na assimetria, porque essa é uma característica humana”, afirma.

Mãozinha para a natureza
Elson José de Souza, 47 anos, empresário, já recorreu à cirurgia por três vezes. Fez no nariz, nas orelhas e para reduzir a calvície. Não tem dúvidas de que, se fosse preciso, faria tudo novamente

“Se você tem os recursos e vê que pode melhorar, acho que tem de fazer. Às vezes um nariz feito por um médico é melhor 
que um feito pela natureza”

Segundo o psicanalista e professor do Departamento de Psicologia da UFMG Guilherme Massara Rocha, é preciso refletir sobre o empobrecimento de nossa relação com o conceito do belo e as consequências que decorrem disso. “Pensadores do século XVIII argumentavam que a beleza não deveria ser pensada como um conjunto de formas, mas como um conceito aberto, possível de ser reconhecido nas atitudes das pessoas”, diz.

À parte as questões estéticas, eventuais exageros podem trazer ainda outras consequências. “Antes, fazíamos três ou quatro técnicas combinadas em um único ato cirúrgico, que durava até 10 horas”, diz Salum Castro. “Hoje, o máximo recomendado é combinar três procedimentos, desde que pequenos, e quando o estado de saúde do paciente esteja bom.”

Não é à toa que, apesar de amplamente disseminada, a cirurgia plástica não é indicada para todo mundo. Além de limitações físicas – excesso de peso, pressão alta ou problemas de cicatrização, por exemplo –, há condições psicológicas a serem levadas em conta. Pessoas que buscam resolver na mesa de operação problemas de outras esferas são desaconselhadas a prosseguir com a preparação, ainda que haja uma necessidade real para a cirurgia. Para Salum Castro, faz parte do compromisso social assumido pelo médico cuidar do bem-estar integral de seus pacientes, e isso, às vezes, inclui dizer não: “Precisamos conversar e explicar para o paciente que aquilo que ele acha bonito hoje daqui a um ano pode provocar problemas. O médico é responsável por fornecer ao paciente uma série de informações que não circulam na mídia, para que ele tenha um resultado satisfatório e duradouro”, diz.

Novo manequim
Luciana Santana, 30 anos, fisioterapeuta, fez três lipos, a primeira aos 18 anos. Depois das intervenções, decidiu manter um estilo de vida mais saudável e saiu 
dos 80 para os 58 quilos.
“Meu sonho era usar blusa frente-única, coisa que eu nunca faria com o meu ‘corpo antigo’. Hoje, estou com a forma que eu queria e troquei todo meu guarda-roupa! 
Só quem passa por isso sabe a importância”

Negar-se a realizar um procedimento nem sempre significa “perder o cliente”, como argumenta Guilherme Ribeiro, cirurgião especialista em técnicas de lipoaspiração. “Com jeitinho, podemos fazer com que o paciente reflita um pouco a respeito da sua motivação ao nos procurar, para que não haja sobre a cirurgia esperanças que ela não pode responder, como recuperar um namorado ou superar um divórcio. Não são raros os casos em que desaconselho uma cirurgia e a paciente deixa o consultório grata pela minha honestidade”, conta. Esse foi o caso de James França, cabeleireiro de 36 anos que, após seis intervenções no rosto, recebeu do seu médico, Luiz Alberto Lamana, o conselho para desistir de mais uma alteração. “Quando cogitei fazer a sétima plástica, o doutor disse que era melhor eu procurar um psicólogo”, afirma James, que iniciou um processo de terapia. “Descobri que o problema, às vezes, não é estético.”

A primeira intervenção em James foi aos 22 anos e no nariz, que diminuiu a largura e sofreu remodelamento. “O formato me incomodava muito”, diz. “Fiz a cirurgia e o resultado me agradou”. Ele gostou tanto que, na sequência, fez o redesenho do lábio superior; cirurgia de pálpebra para levantar o olhar; ‘‘fio russo’’ para amenizar efeitos da idade na pele e levantar a musculatura do rosto; prótese no queixo para mudar o formato; e, ufa!, finalmente, depilação a laser.

Apesar do grande número de intervenções, ele considera sua aparência bem natural. “Sempre foi minha preocupação não me transformar em outra pessoa. O que fiz foi corrigir pequenas imperfeições, mas que deram muito resultado no aspecto geral.” Para James, a satisfação rápida obtida com a cirurgia plástica acaba gerando certo vício, hipótese que é negada pelos médicos, mas constatada na prática. “A pessoa fica tão satisfeita que acaba querendo fazer outras coisas. O que não pode é ter 70 anos e querer ficar com carinha de 30”, diz James.


Feliz com a aparência
Mirtes Ferreira, 62 anos, agente de viagens, para obter uma aparência mais jovem, ela passou por redução do abdômen, implante de prótese mamária, lipoaspiração, preenchimento na boca 
e rejuvenescimento (lifting) no rosto e no pescoço. Tem um namorado 17 anos mais novo.
“Claro que existe a preocupação de não ficar esticadona, mas quando você está na mão 
de bons profissionais, não tem por que ter medo. 
Eu não tenho receio: os bons resultados que tive 
me animam a fazer mais, se for preciso”

O cabeleireiro é um exemplo de que, apesar de prevalecer a preocupação feminina com a aparência, também os homens estão crescendo entre os “consumidores da beleza”. Atualmente, eles respondem por aproximadamente 18% do total de cirurgias estéticas realizadas no país, segundo levantamento feito pelo Ibope em 2009. De acordo com a mesma pesquisa, cirurgias de aumento de mama, lipoaspiração e redução do abdômen (abdominoplastia) foram as técnicas mais requisitadas pelo público feminino, enquanto cirurgias de pálpebras, nariz, face e lipoaspiração foram as campeãs entre o masculino (veja gráfico). Somadas, elas correspondem a 52% do total de quase 655 mil operações – estéticas ou reparadoras – realizadas em 2009. São números que fazem com que o Brasil ocupe o segundo lugar no ranking mundial, atrás apenas dos Estados Unidos. No do país, o mercado mineiro é medalha de bronze: somos responsáveis por 10% das cirurgias realizadas no Brasil, atrás apenas de São Paulo e Rio de Janeiro.

O casal Elson de Souza, empresário, e Fabrizia Pacheco, consultora de vendas, está no grupo dos mineiros adeptos da plástica. Aos 42 anos, ele já passou por três procedimentos: remodelagem do nariz (rinoplastia), remodelagem das orelhas (otoplastia) e redução da calvície. Ela, com 36 anos, contabiliza quatro: implantes de prótese mamária, redução do abdômen, lipoescultura e remodelagem do nariz. “A nossa autoestima melhorou muito. Dei total apoio a ela e também fui apoiado por ela. Se há como melhorar e você tem os recursos para investir, vale a pena”, afirma o marido, que financia as melhorias da mulher. “Nunca pensei em ter um bumbum empinadinho, e hoje eu tenho o corpo que sonhei, graças à cirurgia. A única modificação que ainda quero fazer é no nariz, mas falta tempo”, diz Fabrizia.

Com o corpo renovado, Fabrizia serviu de inspiração para as amigas, que também recorreram ao bisturi. Uma delas foi a decoradora Marcela Nunes, 37 anos, que já colocou próteses de silicone nos seios, remodelou o nariz e aumentou a espessura dos lábios com enxerto de gordura. “Muita gente considera que as minhas cirurgias foram desnecessárias, mas o tamanho do meu nariz, por exemplo, era uma coisa que me incomodava. Ainda não está como eu gostaria, mas a médica disse que não posso mais mexer, senão o resultado pode ficar estranho”, conta Marcela, que se reconhece vaidosa. Além das mudanças cirúrgicas, ela não abre mão da malhação diária e garante que, se tiver outro filho, recorrerá novamente à ajuda do bisturi. “Não tem jeito, fica uma ‘pelanquinha’ que exercício físico nenhum consegue tirar. Só na faca”, diz.


Seis plásticas e terapia
James França, 36 anos, cabeleireiro, aos 22 anos, reduziu e remodelou 
o nariz. Na sequência, redesenhou 
os lábios, suspendeu a pálpebra, colocou fio russo para levantar 
o rosto, além de prótese no queixo. Depois de seis intervenções, começou a fazer terapia.
“Quando decidi fazer a primeira cirurgia, meu pai achava desnecessário. Mas 
o resultado ficou tão bom que minha irmã acabou fazendo uma operação 
no nariz e minha mãe, redução 
do abdômen. É a prova de que caiu um preconceito, pelo menos na minha casa”

Sem avançar limites, a cirurgia é capaz de fazer verdadeiras revoluções pessoais, como é o caso da fisioterapeuta Luciana Santana, hoje com 29 anos e 58 quilos. Gordinha na adolescência, ela se isolava por não aceitar o seu tipo físico, tensão que acabava sendo descontada na comida e, claro, só piorava o problema. “Eu era escrava do meu corpo. Minha vida girava em torno disso. Quando emagrecia, ficava superbem, mas, se engordava, voltava a me afastar das pessoas”, relembra. O ciclo vicioso encontrou na cirurgia plástica uma válvula de escape, mas não uma solução. Aos 18 anos, Luciana submeteu-se à primeira lipoaspiração sem o consentimento da mãe. Iludida com os rápidos resultados da cirurgia, ela voltou a comer desregradamente e, com isso, vieram os quilos extras e a gordura que tanto a incomodavam. Aos 23, ela fez nova lipo, mas também foi inútil. “Achei que depois da lipo meus problemas com comida estariam solucionados. Por isso, continuei comendo e, dois anos depois, retornei ao estado anterior. A cirurgia dá um empurrão grande, mas não faz milagre. É preciso um pouco de esforço”, afirma.

Inconformada com a situação, Luciana resolveu mudar radicalmente. Fez nova cirurgia, mas viu que, se não mudasse seu estilo de vida, novamente seria em vão. Passou a fazer atividades físicas e acompanhamento com nutricionista, endocrinologista e terapeuta. “Com a nova dieta, reduzi meu peso de 80 para 62 quilos. Por conta do efeito sanfona pelo qual passei diversas vezes, minha pele estava flácida, situação solucionada com uma miniabdominoplastia associada à terceira lipoaspiração. Fiz implante de próteses de silicone e levantamento do seio. Mas também resolvi procurar uma terapia. A plástica eliminou aquilo que eu não gostava em mim e a terapia me ajudou a me aceitar. Hoje, sou outra pessoa. Posso dizer que a cirurgia plástica me devolveu a minha vida”, diz. Sua médica, a cirurgiã plástica Patrícia Leite, que atende até 100 pessoas por mês e opera cerca de 60, afirma que casos como o de Luciana não são raros em um mundo cada vez mais focado na estética. “Desaconselho procedimentos diariamente em meu consultório. Atendo modelos, misses, pessoas superjovens com solicitações desnecessárias. Se eu for atender a tudo que me pedem, elas sairão daqui embonecadas”, declara a médica.

Já para Mirtes Ferreira, agente de turismo, a cirurgia resolveu os incômodos que chegam com a idade. Com 62 anos, ela já passou por redução do abdômen, implante de prótese mamária, lipoaspiração suave, preenchimento na boca e rejuvenescimento (lifting) no rosto e no pescoço. O resultado é uma aparência mais nova em quase 15 anos. “Todo mundo me elogia, veem que estou feliz. Se acho que tem algo para melhorar, não perco tempo e logo marco uma consulta com meu cirurgião”, diz Mirtes, que associa as modificações cirúrgicas a três horas de musculação todos os dias. “Sou vaidosa, gosto de me olhar no espelho e me sentir bem. Por isso, tenho um namorado lindo, de 45 anos”, declara.

Para não se tornar um exemplo do que não fazer, a recomendação unânime de especialistas e de pessoas adeptas da plástica é recorrer à indicação de conhecidos e verificar, com a ajuda do site oficial, se o profissional é filiado à SBCP. “Não somos executadores de cirurgia. Somos profissionais capazes de avaliar e até de recusar a fazer uma cirurgia desnecessária”, enfatiza o médico Ronan Horta.

Fonte:Revista encontro
beijos, Fran
21/05 2013
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